quinta-feira, 15 de julho de 2010

UNIÃO HOMESSEXUAL NA ARGENTINA: AD HOMINEM E VERDADEIRA DEMOCRACIA

Diversos manifestantes esperaram por cerca de 15 horas a decisão dos senadores argentinos.

Maradona não se fez de rogado quando o jornalista inglês observou sua atitude carinhosa com os jogadores de sua seleção: o argentino fez questão de frizar que era homem, gostava de mulher, etc. Entretanto, nem todos os seus compatriotas partilham do mesmo acirrado heterosexualismo. Depois do histórico enlace entre Alejandro Freyre e Jose Maria Di Bello, ocorrido no último 4 de Janeiro, a Argentina aprovou na madrugada de hoje o casamento homossexual, sendo o primeiro país latinoamericano a fazê-lo.

Os senadores ratificaram decisão anterior da Câmara dos deputados, ocorrida há cerca de um mês. Agora, o projeto de lei espera pela assinatura da presidente Cristina Kirchner. A chefe de estado, ao que parece, agradará aos defensores da causa arco-íris.

Quem se desagradou da medida foram católicos e evangélicos argentinos, que protestaram em diversas ocasiões contra o casamento homossexual. Aproximadamente 60 mil pessoas participaram de uma passeata com cartazes contendo os dizeres: “As crianças têm direito a uma mãe e um pai”. [1] O maior opositor foi Jorge Bergoglio, primaz da Igreja Católico (segundo lugar em relação a Joseph Ratzinger no conclave que elegeu o novo papa). Bergoglio chegou a dizer que movia uma “Guerra de Deus” contra a aprovação do projeto de lei. [2]

Cristina Kirchner reagiu, acusando a Igreja Católica de falar como se ainda vivêssemos nos tempos das cruzadas e ainda afirmou: “Eles retratam a lei como uma questão de moral religiosa, como uma ameaça à ordem natural, quando o que realmente estamos fazendo é olhar para uma realidade que está aí”. [3] Já o senador Adolfo Rodríguez Saá mencionou “setores fundamentalistas que querem irritar e dividir a sociedade argentina”. [4]

Além das opiniões contundentes, quer favoráveis, quer contrárias ao casamento homessexual, houve igualmente quem revelasse cautela em relação ao projeto de lei: “Não houve estudo sobre o impacto do casamento homossexual sobre as crianças. Não é correto dizer que o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo tem o mesmo efeito que o matrimônio entre heterossexuais. A relação entre um homem e uma mulher é fértil. A relação entre homossexuais é estéril”, observou a senadora Sonia Escudero. [5]

A questão é completa e a mídia a enfoca de forma generalizada, apresentando a causa pró-homessualismo como essencialmente democrática, demonizando aqueles que, por motivos diversos (de matriz religiosa ou não) argumentam em sentido contrário ao casamento homossexual. Enquanto houver esse tipo de discurso Argumentum ad hominem não poderá haver discussão verdadeiramente democrática. Para boa parte dos políticos (incluindo o casal Kirchner) a aprovação de leis e medidas que favoreçam os homossexuais se deve mais ao interesse eleitoreiro do que a uma convicção social. Falta haver mais debate aberto sobre o tema e, principalmente: que se discuta, a priori, por meio de qual base moral a questão será analisada, em nome de um resultado lógico e benéfico para a sociedade como um todo e, em particular, para a família, sua célula-máter e entidade mais afetada com toda a questão.


[1] BBC Brasil, Argentina aprova casamento entre pessoas do mesmo sexo, disponível em http://noticias.br.msn.com/mundo/artigo-bbc.aspx?cp-documentid=24881006 .
[2] Ariel Palacios, Após 14 horas de debates, Argentina aprova casamento entre pessoas do mesmo sexo, diponível em http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,apos-14-horas-de-debates-senado-da-argentina-aprova-o-casamento-gay,581494,0.htm .
[3] Argentina aprova casamento gay, disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/argentina-aprova-casamento-gay .
[4] BBC Brasil op. cit.
[5] Argentina é o primeiro país da América Latina a aprovar o casamento gay, disponível em http://noticias.r7.com/internacional/noticias/senado-argentino-aprova-casamento-gay-20100715.html .

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