Entre cochilos e súbitos despertares, finalmente cheguei à rodoviária Tietê. Não posso retratar a minha como uma noite tranquila. A experiência de dormir no banco de um ônibus não costuma ser reparadora.
Eu, minha esposa e nossas dezenas de sacolas descemos para nos encontrar com as dezenas de malas deixadas no bagageiro. São Paulo amanhecia junto conosco.
Uma vez formada a fila, ficamos esperando até que um dos funcionários da empresa viesse abrir o bagageiro do veículo. De fato, a operação demorou mais do que o usual. Como um dos últimos da fila, estive ao lado do motorista; senti sua apreensão. Para ser franco, notei que ele se mostrava mais apreensivo do que a maioria de nós passageiros.
Passaram-se alguns minutos ainda, até que viesse o tal funcionário para cumprir sua incumbência. Outros ônibus ladeavam o nosso, e muitos passageiros desembarcavam simultaneamente. Certo motorista, saído de outro veículo (o qual deveria ser o quarto a partir daquele em que viajei), veio queixar-se com o rapaz que abria os bagageiros. Sua queixa se baseava no que argumentou ser uma espera absurda e um desrespeito à ordem de chegada (afinal, ele não chegara primeiro do que nós?). O bate-boca não foi longe, mas, parafraseando o poeta, foi eterno enquanto durou.
Minha esposa, ao meu lado, comentou como as pessoas vivem estressadas. Não me admira: num estado com poluição ubíqua, trânsito dantesco e excesso de gente por metro quadrado, os ânimos vivem em ebulição. Obviamente, o estresse não é privilégio de quem vive em São Paulo ou qualquer outra megalópole. Temos aqui um ingrediente comum da vida (pós-) moderna.
Coisas como cortesia, amabilidade, disposição de renúncia, altruísmo, serviço abnegado e amor genuíno parecem estar empalhadas em histórias infantis, com suas figuras coloridas e enredos maniqueístas. Entretanto, para os cristãos, tais características são mais do que mero idealismo ingênuo. A Palavra nos fala do fruto do Espírito (Gl 5:22-23), conhecido através de suas características diversificadas: “o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio” (BLH).
Inseridos em uma sociedade estressada e egoísta, dentro da qual as pessoas se voltam para seus interesses próprios, temos o desafio de agir e viver de forma diferente. Nada como refletir nesse repto quando temos à frente um novo ano, com novas oportunidades para testemunharmos. Apenas pelo decisão consciente, sairemos do estado de estresse para entrar no estado de graça – através da Graça divina.
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