domingo, 25 de julho de 2010

CORAGEM, MAGNO!


Ele percebeu quando o segurança o acompanhava com os olhos. “Morra de inveja”, chegou quase a dizer. Magno saía do estacionamento do banco, manobrando confiante. Poucos tinham um uno novo. Ele, que economizara tudo por aquele carro, agora arrancava olhares de todos.

Ao entrar na via, Magno olhou para a sua esquerda e, como o movimento estava favorável, arrancou. De súbito… ainda atordoado, sem saber o que lhe ocorrera, ele se volveu para a frente. Uma Kombi, uma maldita Kombi!

Verônica estacionava quando o Uno, saído do estacionamento do banco, pegou-a desprevenida. Ela nunca batera o automóvel. O que o marido diria?…

“Sua maluca, não enxerga, não? Tirou a carteira por telefone?” antes que Verônica conseguisse esboçar qualquer desculpa, uma enxurrada de impropérios voava do desconhecido. Em sua timidez, ela virava para os lados, reparando em quantos transeuntes paravam para ouvir o dono do Uno brigar com ela.

Desconcertada, Verônica recobrou ainda a fala. “Olha, moço, me desculpe, Já? Eu juro que não vi…” Parecia que a garota houvesse recém chegado da China para um intercâmbio. Baldados eram seus esforços, pois Magno, espumando, por pouco não lhe atacava.

Verônica começou a chorar. E não tinha quem lhe oferecesse um sudário ou pano que fosse! Magno, a princípio, conteve-se. Começou a rondar seu carro, num ritual próximo ao da “dança da chuva”. Porém, ao tocar no para-choque torto, sentiu subir-lhe nova onda de raiva.

Sentindo-se desconsolada e incompreendida, Verônica resolveu tirar o celular da bolsa. Falou rapidamente com o marido. Enquanto Magno lhe atacava com maior veemência, ela só retrucava: “Calma, moço! Meu marido já vem para acertar as coisas com o senhor”.

Dali a dez minutos, Magno só conseguia bufar. Perdera a voz. Rouco e contrariado, montou guarda no veículo amassado. Foi nesta hora que um Fusca estacionou atrás de seu carro. Desceu dele um senhor, compleição macia. Aparentava quinze anos a mais do que a moça. Ela não era nenhum espécime raro, uma modelo ou mulher-fatal, mas tinha seus encantos. O nariz arrebitado dava um ar non-sense, justamente o que faltava ao marido. Seus olhos pareciam conhecer os palmos do globo e as rotas do ponteiro infatigável do relógio.

“Oi, amor”. Veio e abraçou Verônica. Era, agora, quase como um pai consolando a menina arteira. Fê-la entrar no carro. Magno sentiu-se ignorado. E correu até o homem.

“Um momento!” Deteve-lhe o distinto marido de Verônica. Depois, encarando-o de frente, inquiriu: “Então, minha mulher bateu no seu carro novo?” Magno concordou, surpreso pela paciência do senhor. O homem tirou da valise um talão de cheque. “E quanto é esse seu carro?” Magno deu-lhe o valor. Já começava a se queixar, quando um cheque, no valor do veículo batido, pousou em sua mão. “Seu carro agora é meu, rapaz.”

Magno, visivelmente senhor de si, já se preparava para sair. “Mais uma coisa, antes que você se vá.”

Magno se aproximou. Agora, era ele quem assumia o aspecto de uma criança prestes a ouvir a reprimenda paterna. “Homem valente como o senhor é o que eu preciso lá no meu sítio. Homem que encare essa gente dos sem-terra e os vagabundos que invadem minhas propriedades. Sabe como é, não faltam destes maconheiros por aí, que passam as noites nos meus galpões.”

“Como assim? Acho que o senhor está entendo mal… Eu trabalho em uma loja, sabe?”

“Entendo, você só sabe gritar com mulher, não é?” Magno não sabia o que responder. Mas não foi preciso: o homem saiu na Kombi com a mulher e ele, arrostando o cheque, caminhou até sua casa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Rapaz! Parabéns pelo novo visual do blog, super moderno e aconchegante. Que DEUS te abençoe...Venho de vez em quando para verificar...lindo ficou. O blog que eu administro é www.bloggospel.criarumblog.com

Valeu!

Anônimo disse...

Eu entendi que é preciso ser humilde em qualquer situaçao em nossas vidas ....... ass:anderson