Em meados de
Janeiro, em uma das minhas costumeiras visitas à Livraria Curitibas, tive acesso ao lançamento The Umbrella Academy: Suíte do Apocalipse. Li toda a obra, com
curiosidade, por saber de sua fama ainda antes de ser publicada por estas
bandas. Trata-se de uma premiada HQ, com roteiros do estreante Gerard Way e
arte do brasileiro Gabriel Bá.
Apesar de
não ser um nome desconhecido, tanto no mercado nacional quanto no exterior, Bá
não está no seu terreno costumeiro, pois costuma desenhar história de outros
gêneros. Ele próprio admitiu que essa sua primeira incursão pelo gênero
Super-Herói se deve às características peculiares de Umbrella. Na verdade, o enredo toma como premissa o relacionamento
familiar nada saudável de sete garotos que nasceram com poderes especiais,
adotados por um inventor inescrupuloso. Na prática, como o tema de
relacionamentos entra na pauta entre uma cena e outra de ação
despropositadamente violenta, Bá achou conveniente aceitar participar da série.
Apesar das
expectativas de que o tratamento psicológico se aprofunde com o tempo, confesso
que o roteiro me decepcionou em muitos pontos. Além das concordar com algumas
resenhas que apontavam paralelos de Umbrella
com X-men e Heroes, senti falta de uma ação mais amarrada e menos óbvia. Os
diálogos me pareceram tão profundos como os que costumam povoar obras de ficção
pop – e todos sabemos que nem George
Lucas, nem James Cameron ficaram famosos por sua habilidade de botar frases na
boca de personagens!
A arte de Bá
é um caso à parte. O desenhista foge do lugar-comum de homens musculosos e
mulheres curvilíneas. Seu traço está mais para o de artistas europeus, daí
causar alguma surpresa em quem está habituado aos enfants terribles do porte de Jim Lee e Frank Miller (antes dele
“rabiscar” aquela baboseira chamada Cavaleiro
das Trevas 2).
Por outro
lado, é interessante como o tema do fim do mundo é explorado pela cultura pop. Em Suíte do Apocalipse, um membro da academia (que depois se torna a
Violino Branco), descobre seus poderes e resolve se vingar de seus irmãos, além
de destruir o mundo através de uma peça musical tenebrosa (está bem, vamos
admitir que a ideia é completamente ridícula mesmo…). Para variar, os mocinhos
são capazes de impedir a tragédia (de forma contrária ao código dos heróis
tradicionais).
Na cultura
de massa, sempre o fim do mundo é algo que pode ser evitado pelos esforços dos
mais habilidosos, ou pelo menos, o fim nunca é total e sempre sobra um grupo
para preservar a humanidade e reconstruir o mundo. De certa forma, essa
perspectiva serve de contraponto à mensagem bíblica, a qual se caracteriza pelo
anúncio de um Juízo inevitável (Ap 14:6). Deus será o próprio Juiz, que
destruirá o mundo para poder criar novos céus e nova Terra (Ap 21:1-4), sem a
participação de seres humanos.
Sendo assim,
os verdadeiros heróis são aqueles que anunciam o fim e não os que o evitam. De
qualquer forma, nossa geração continuará sendo bombardeada por nossos heróis
anti-cataclismáticos, os quais, ironicamente, vivendo um cataclisma interior,
como os torturados personagens de Umbrella.
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Um comentário:
excelente leitura!
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