Dias em que não se pode reclamar de ter ido ao fundo do poço, porque ainda caímos, cada vez mais, desastre após desastre – jamais imaginei que pudesse dizer isso do meu ontem, no qual uma manhã tranqüila dava a entender que desembocaria em uma noite sossegada.
Nada mais traiçoeiro, porém.
Na mesa da praça de alimentação, eu acabara de abrir o notebook, quando senti um mal-estar, um desconforto, uma urgência de sair de onde estava e me refugiar não-sei-onde. Voltei para o Colégio, abri o carro e atraquei no banco traseiro, pernas para cima, clamando a Deus em meio à dor. Melhorei depois de uns quinze minutos. Esperei na biblioteca minha esposa dar a última aula dela. Voltamos ao supermercado onde eu passara mal. Novamente, meu estado se alterou, fiquei com fortes dores pouco acima da virilha. Meu amor seguiu para as compras, enquanto eu me aninhava no banco traseiro, que nestas alturas parecia o colo materno.
Uma eternidade negra, muitos clamores e minha esposa voltou. Eu havia piorado. Tivemos de ir para o hospital. Como uma catástrofe convida outra para o jantar, nosso pneu furou. Era impossível continuar a pé. Tive de sentar-me próximo a um estacionamento enquanto meu bem buscava ajuda. Não demorou muito até que eu vomitasse, ali mesmo, na calçada.
Um amigo, funcionário do colégio, voltou de carro e agora em três chegamos a pronto-socorro. Eu já nem disfarçava os urros. O primeiro médico que me viu não teve dúvidas: pedras no rim! Essa não! Eu cresci ao lado de um pai forte, que, ao pegar um resfriado, saía sem camisa para lavar o carro nos domingos pela manhã. A única coisa que fazia com que meu pai gritasse eram as tais pedras no rim – que alguns chegam a dizer serem dores mais fortes que as do parto.
Mas como eu, que me alimento bem, não fumo, não como gordura, não bebo nada alcoólico (nem refrigerantes, acrescente-se), fui ter um negócio cruel destes? “Você pode ser católico ou protestante, cuidar-se ou não, isso não importa!”, disse o doutor para um rapaz ainda descrente de que aquilo estaria mesmo ocorrendo com ele… Pouco depois, veio outra notíca: nosso plano de saúde estava cancelado (aquele que eu pago a cada mês) e eu não poderia ser mais atendido na ala em que estava; seria agora um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS).
Abandonei minha cama fofa, forrada por um lençol limpo e me pus a perambular atrás de uma enfermeira. Paramos numa sala com outros pacientes que esperavam por um médico. Deitei-me num sofá, enquanto minha esposa se acomodava em uma poltrona. Dormi e acordei muitas vezes. O meu “saquinho” de medicação intra-venosa estava vazio e as dores voltavam progressivamente. Quando o médico finalmente apareceu (uma hora e meia depois!), ele me examinou, e disse que, pelo fato de ter reagido bem à medicação, já era um bom sinal.
Meus sintomas poderiam indicar vários possíveis problemas – inflamação, apendicite, crise renal, etc. Somente exames poderiam definir do que realmente se tratava; todavia, eu teria de esperar três horas para passar pelos exames. O médico me liberou, passando um tratamento e encaminhando o pedido de exames, os quais eu poderei fazer em qualquer posto de saúde.
Bem, aqui estou eu, depois de um dia de trabalho, parando em pé por causa do meu remédio. Não posso me queixar. Deus cuidou de mim a cada instante e eu não tive que passar a noite em um hospital. Tive outra manhã relativamente normal e testemunhei aos demais professores e aos meus alunos o como Deus havia permanecido comigo em cada transe, velando, cobrindo-me com Sua palma. Ele acalmou meu espírito e me ensinou a encarar cada etapa desta nova crise com paciência. A história talvez esteja longe de terminar. Sinceramente, não sei o que virá a acontecer. Só continuo esperando em Deus (e contando com as orações de amigos dedicados) para que o problema que enfrento, seja ele qual for, redunde na glória de Deus, o mesmo de quem dependo a cada novo fôlego.
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