Os antropólogos
são culpados por disseminarem a ideia segundo a qual qualquer produção
artística pose ser chamada de cultura, independente de possuir ou não
qualidades. O relativismo chegou à estética. Logo, entre Mozart e Valesca
Popozuda não há diferença (!), porque tudo seria música. Cézanne e Hubert
Duprat se equivalem, porque ambos são artistas plásticos. Essa confusão
terrível danificou a apreciação da verdadeira arte, além de depravar noções
estéticas que são reflexo da beleza que há no mundo criado belo por Deus.
Essa introdução
sobre a arte nos é útil para falar da cultura pop, que pretende produzir cultura de forma legítima, apesar da
baixa qualidade estética. O que facilita o processo é que, atualmente, tudo se
reduz a gosto, como se a opção de cada um fosse a legitimação necessária para
qualquer expressão artística.
Quando
alguém diz que “axé é para quem gosta” ou defende o sertanejo universitário
(que deve ter muitas DPs, porque nunca se forma!) com base no próprio gosto,
está-se deixando de lado o fundamento de toda verdadeira arte: transmitir
beleza, transbordar sentimentos de enlevo e estarrecimento, intencionalidade, transmitir
uma mensagem grande e apresentar domínio de recursos artísticos peculiares.
É mais
fácil definir a arte ruim (até pela abundância de exemplos, de Bieber a Percy
Jackson), mas se torna inescapável reconhecer uma grande obra quando se está
diante dela.
Mas
como discutir qualidade artística, se os defensores da cultura popular costumam
blindar seus artistas de críticas, defendendo-os com unhas e 140 caracteres? Por
exemplo, quem falar sobre um artista medíocre, prepare-se para ser alvo de uma enxurrada
de comentários: Xuxa e Ratinho que o digam!
A palavra
da vez é recalque. Dado que o ídolo é absoluto, quem o crítica só pode mesmo
estar motivado por inveja – o tal do recalque. E todos são recalcados:
jornalistas, críticos literários, aqueles que comentam o desempenho de atletas,
etc. Não há como tentar ser objetivo sem cair na acusação: “recalcado”! Assim,
mata-se a possibilidade de diálogo e se sustenta a idolatria que fecha as
portas a todo senso crítico.
E,
para aqueles leitores que, a despeito de alguma cultura e formação acadêmica,
dispuserem de tempo livre, eu os convidaria a analisar um fórum da internet: sobre qualquer assunto, deixo
a seu critério. Perceba que, basicamente, haverão dois tipos de comentários: favoráveis ou contrários. Isso, sem meios-tons,
ou avaliações equilibradas. Além disso, não ocorrem discussões, apenas opiniões
surdas em um diálogo em que as ideias ficam de fora. O emburrecimento parece
ter alcançado sua disseminação mais bem sucedida nos fóruns. Sem ponderações ou
articulações, somente torvelinhos de comentários dispersos.
Se o
povo desenvolvesse lucidez e espírito analítico, veríamos menos gente gritando “recalque”
e defendendo o direito de ouvir funk e mais preocupada com o rico patrimônio
cultural (bons músicos, escritores, artistas plásticos) do Brasil. Sonho em ver
uma hastag na qual se discuta algo
memorável e não o disparate comum, ao estilo de #anitanossoorgulho.
2 comentários:
Amei!!! Amante e Observadora da Arte, Concordo Plenamente! rs'
Infelizmente, a dialética praticamente inexiste na dita pós- modernidade. A postura outrora natural de ouvir e ponderar antes de questionar há muito deixou até mesmo o ambiente acadêmico (no qual, até mesmo os ditos mestres são extremamente tendenciosos ao avaliar os aprendizes); sendo assim, não estaremos superestimando o ambiente cibernético? Além disso, a questão é muito mais profunda do que o ideal estético que envolve a Arte. O conceito de relatividade (sempre brilhantemente definido por você, Pastor Douglas)veio contribuir para confundir (e distrair, é claro)os ignorantes - esclareça-se, aqui, "aqueles que ignoram o conhecimento", a fim de que estes continuem ignorando. E assim o mundo se torna cada vez menos eloquente e mais primitivo. A máxima "Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-lo" erroneamente atribuída a Voltaire, será, lenta e irrevogavelmente, suprimida dos manuais de Filosofia e terá como substituta alguma citação dos pseudogênios do século XX, John Lennon, Renato Russo... ou, no outro extremo, Justin Bieber e Anitta. Afinal, tudo é arte.
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