Oito dias depois, o menino deveria ser
circunsidado, de acordo com a lei. Seria uma grande festa, além de ocasião para
que a criança recebesse um nome. Segunda a tradição, seria mais comum receber o
nome de seu pai ou de algum familiar. Quando Isabel, mãe aos quarenta e cinco
minutos da vida, disse que a criança se chamaria João, todos objetaram. A saída
foi perguntar ao pai como ele queria nomear seu filho:
Eles usaram linguagem de sinais para
perguntar a Zacarias como ele queria chama-lo. Respondendo por um tablete,
Zacarias escreveu: “Seu nome deve ser João.” Isso pegou a todos de surpresa.
Surpresa seguida de surpresa – a boca de Zacarias agora se abriu, sua língua se
soltou e ele estava falando, louvando a Deus! (Lc 1:62-64, The Message).
Somente quando reconheceu a vontade de Deus
(expressa na escolha do nome de seu filho) Zacarias recuperou a fala. O
sacerdote de fé vacilante aprendera a lição. Como demonstração de sua confiança
resoluta no Senhor de Israel, ele cantou um belíssimo salmo (v. 68-79), um dos
três que adornam a introdução do evangelho de Lucas.
O estágio da dúvida ao louvor passa pelo
reconhecimento de que Deus é real. Isso pode se dar de várias formas. Pela
leitura da Bíblia ou escutando as palavras do pregador. Por meio de música ou
literatura cristã. Recordando aquilo que Deus fez ou ao testemunhar sua atuação
agora mesmo. O processo pode variar, mas o efeito é o mesmo. Fé revigorada.
Coração abastecido. Um olhar de calma e esperança lançado ao futuro. Certeza
das promessas divinas.
Leia o cântico de Zacarias. São palavras que
ardem. Ficaram seguradas na garganta. Nunca mais a Bíblia fez menção ao pai de
João Batista ou a suas palavras. É seu último ato. E ele cumpriu seu papel com
louvor.
Se pudéssemos dividir didaticamente seu poema
em algumas partes significativas, perceberíamos que sua própria estrutura ajuda
na divisão. Isso porque ele se parece com os salmos do Antigo Testamento. Ao
invés de rimas, encontramos o paralelismo, quando as linhas se repetem, se
completam ou se contrastam. Às vezes, as linhas em paralelo formam uma
estrutura mais complexa, chamado quiasmo. Isso acontece, por exemplo, quando a
primeira linha (A) faz paralelo com a última (A’) e a segunda (B) e terceira
(B’) entre si.5 Talvez o esquema parece difícil ou muito técnico.
Mas observe esse esquema resumido do cântico de Zacarias:
(A) A visita do Deus que redime Seu povo – v. 68.
(B) A
salvação predita pelos profetas do passado – v. 69-70.
(C) Salvos
dos inimigos – v. 71.
(D) A
Revelação da aliança –v.72-73.
(C’)
Salvos dos inimigos para servirem a Deus – v. 74-75.
(B’) O conhecimento da salvação por meio do profeta atual
(João Batista) – v. 76-77.
(A’) A
visita do sol que brilhará sobre o povo em trevas.
Perceba as semelhanças entre as linhas
marcadas com a mesma letra. O tema central do salmo está relacionado à
esperança messiânica, o maior sonho de Israel. Quando Zacarias venceu suas
dúvidas, ele conseguiu enxergar além de si e contemplar panoramicamente o plano
divino. A linha sem paralelo (D) é a parte central do poema. Deus enviaria o
Messias, predito pelos profetas do passado e antecipado por um novo profeta,
para libertar o Seu povo em virtude da aliança que tinha com eles.
Hoje Deus quer fazer um concerto com você.
Novamente, o Messias se manifestará – agora, em toda majestosa Sua glória,
iluminando as trevas desse mundo com Sua justiça. Compensa abandonar as
fraquezas e devaneios. Ele está voltando. Está perto. Vindo.
O povo de Deus recebeu a incumbência de lhe
preparar o caminho. Ao mesmo tempo, devemos crer na mensagem. É hora de
experimentá-la. E de crer como nunca.
Como Zacarias, deixe seu grito preso pela
dúvida atravessar a garganta com o design
de um cântico de fé.
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