Os
ministérios e entidades para-eclesiásticas são avaliados levando-se em conta o
seu sucesso, que, nesse caso, consiste em popularidade, influência e
crescimento de fiéis. Qualquer estratégia é admitida e justificada pelo sucesso
alcançado naqueles termos. Talvez o emprego de atividades não-ortodoxas para
arrebanhar seguidores explique a divulgação que algumas denominações venham
recebendo por parte da imprensa. Grupos de skatistas, festivais de hip-hop,
danceterias e raves promovidos por católicos ou evangélicos são divulgados pela
estranheza intrínseca de que tais atividades se achem vinculadas com entidades
cristãs; afinal, não eram os “moralistas” cristãos que condenavam expressões
culturais semelhantes? Ao que parece, os cristãos mudaram de opinião por
conveniência, para espanto da sociedade em geral. Poderíamos chamar a nova
abordagem proselitista de “evangelismo bizarro”.
Um
exemplo da tendência de fazer evangelismo bizarro se nota no campeonato de
Vale-Tudo promovido pela Igreja Renascer de Alphaville, SP. Com uma breve pausa
para o testemunho do pastor Mazola, que resultou na decisão de 60 jovens por
Cristo, o quebra-quebra se estendeu até às 3h30 da madrugada. Entre outras
ponderações sobre o episódio, a antropóloga Clara Mafra, pesquisadora da religião,
arrematou que a “junção de sagrado e mundano causa estranheza, que pode ser
ruim ou ter apelo como bom marketing religioso.” [1]
Mas
o evangelismo bizarro apresenta efeitos colaterais, como a banalização do
sagrado e o reducionismo da experiência religiosa ao emocionalismo
sensacionalista. É como beber água limpa em copo sujo – o meio contamina a
mensagem, para prejuízo do Evangelho. [2] Apesar disso, nada indica que o
evangelismo bizarro deixe de ser empregado por neo-pentecostais, carismáticos e
mesmo por denominações protestantes históricas. A razão? O evangelismo bizarro
contribui para potencializar a ganância inescrupulosa de certos líderes
cristãos, mais preocupados com o crescimento de suas congregações do que com
princípios bíblicos.
A
respeito disso, Paulo já havia advertido sobre “homens de mente corrupta, e
privados da verdade e que pensam que a piedade é um meio para ganhos
financeiros” (I Timóteo 6:5, NIV). Mas é Pedro quem cutuca a fundo a ferida,
com suas pesadas mãos de pescador: “Em sua ambição pelo dinheiro, esses falsos
mestres vão explorar vocês” (II Pedro 2:3, NTLH).
O
apóstolo dedica uma longa seção, na qual denuncia os falsos mestres, que são
adúlteros e altamente gananciosos (v. 14), a exemplo de Balaão (v.15), profeta
apostatado do Antigo Testamento que se corrompeu por dinheiro. Por ironia, os
falsos mestres citados por Pedro prometem liberdade, enquanto eles mesmos se
encontram “escravos da corrupção” (v.19). O juízo deles é tão certo quanto o
sofrido pelos anjos caídos (v.4), pelo mundo antediluviano (v.5) e por Sodoma e
Gomorra (v.6). Muitas pessoas que estavam prestes a “fugir dos que andam no
erro” (v.18) acabaram se deixando levar, terminando enganadas por ensinos
distorcidos, recebendo por isso o castigo merecido por dar crédito à falsidade,
depois de terem a oportunidade de conhecer a verdade (v. 20-22).
Outra
consequência: a atuação dos religiosos pervertidos e gananciosos causaria
empecilhos à pregação do Evangelho genuíno: “Muitos seguirão suas doutrinas
dissolutas e, por causa deles, o caminho da verdade cairá em descrédito.” (II
Pedro 2:3, EP). O interessante é que até quando distorcem a mensagem bíblica
por ganância, os líderes religiosos contemporâneos acabam confirmando o que a
própria Bíblia diz!
Leia também: Os adventistas e o medo do legalismo
Leia mais:
Sobre influências seculares na música evangélica:SHOWS CRISTÃOS: CULTO, ENTRETENIMENTO OU MUNDANISMO?
WORSHIP, O MERCADO E OS ADVENTISTAS: SINAIS DO TEMPO
PHELPS, O ROMÂNTICO
WORSHIP, O MERCADO E OS ADVENTISTAS: SINAIS DO TEMPO
PHELPS, O ROMÂNTICO
Sobre critérios filosóficos para a música cristã:A música sacra dentro da cosmovisão adventista: interpretando e aplicando conceitos de Ellen White (parte 1 parte 2 parte 3 parte 4)
Nenhum comentário:
Postar um comentário