A
intersecção entre frio e escuro,
De
uma região anexa à outra;
Que nome
melhor para esta zona
Senão nominá-la medo?
Pátria
de todas as reticências
E
abismo de todos os mistérios…
Dentro
desta cúpula noturna
Ele se acha agora preso.
À
mesa oval, compleição complexa,
Como
um prisioneiro consciente
De
que sua pena cumprir-se-á,
Porque escuta o andar dos guardas.
Ele
sintoniza uma estação
E
ouve o quanto o rádio lhe permite.
Ah! O
rádio não passa de uma caixa
Com pronúncia de asmático.
Canções
são sussurros indecisos.
Os
sons insinuados contrapõem
O
medo ao soprar dias melhores
– São gotas de um gozo em fuga.
De
entre as grades ouve o carcereiro
Lúbrico
– há prazer mais carcerário
Do
que o cumprimento da sentença
– Um sadismo em tons bem justos.
Como
se o homem-carcereiro fosse
A
sociedade que se vinga
De
algum criminoso que merece
Não justiça, mas a pena.
No
presente caso, a transgressão
Pela
qual seus olhos azuis pagam,
São
crimes alheios e constantes
E a pena é sofrer o abuso.
Do
alto de seus oito anos, é
O
prisioneiro para quem
Jamais
a próxima punição
Chegará a ser uma última.
Sobressalta-se
e é de novo o medo
Algo
como um tônico motriz.
Foge
para a escada que há na sala,
Coruja empolada no alto.
Ouve
os vitupérios no atropelo
Do
esbravejo etílico lá fora.
Ele
então se inclina ao corrimão,
Pensa em Deus. Transbordam olhos.
É hipicamente
deslocado
O
trinco da porta. Nisso, o medo
Passa
de um pressentimento à forma,
Forma de invasor real.
Não
se trata de um medo produto
De
ficção. Não um medo sentido
– Ele
pode ser tocado… e mais:
O medo pode tocar!
Vozes
de estridente diapasão.
Distante
da cena de ódio, enterra
O
crânio entre as pernas, conflitante
Tanto quanto está confuso.
Cada
berro feminino é como
Se
algo quebrasse dentro dele.
Depois
(e como o costume rege),
Um silêncio assaz litúrgico.
Ele
se ergue e já não mais por medo;
Apoia-se
em férreo corrimão,
E se
toda escolha custa sempre,
Esta tem um preço acima:
Caminha,
humano e homem, com oito anos
(O
homem que se deve ser desponta).
Da
poltrona, os engasgos violentos
De alguém menor, mas mais velho:
As
ilusões de álbuns flanam ante
As
retinas gastas sem proveito
–
Conhece que são ilusões tolas
(Não que hajam ilusões sábias).
Reflete,
sem que ouça os passos flébeis,
De
quem se avizinha como aliado,
Aliado
sensível. Vem da rua
A luz de um farol de carro.
Suficientemente
duradoura
Para
eternizar esse momento;
Levanta
o menino a sua fronte,
Soldado pronto ao martírio.
Pela
bronca aguarda e não há bronca.
Mal
sabe: a hora é sua por decreto.
A luz
do farol do carro trouxe
A compreensão vária à sala.
O
homem na poltrona ergue a cabeça
(Antes
entre os joelhos) e lhe lança
O
confuso olhar. Do engano de ambos
Nasce a compreensão e o início.
O
menino chega e toma as mãos
(As
espessas mãos que cheiram a álcool),
Mãos
sujas de sangue feminino),
Pondo as suas sobre elas.
O
medo volta e ele quer voltar;
Resiste
ao seu dono a própria perna.
Logo,
recupera-se do choque,
Sua decisão mantém.
Quando
o hálito de ambos preenche o vácuo,
O
pequeno pare a frase em dores,
A
frase que arrasa o inimigo:
“Eu amo você, papai!”.
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