Acho tudo isso uma pobreza, mas é como a banda toca hoje em dia. O grau
de exposição de si próprio em redes sociais já me incomoda. Casais se formam e
se desmancham via Facebook. Separações de longos casamentos são comemoradas por
um “enfim solteiro(a)!” compartilhado com uma multidão de “amigos”, sem a menor
consideração pelos sentimentos do outro ou da outra, que pode estar sofrendo
muito. Falta elegância – discrição então nem se fala...Mas, se alguém resolve
se exibir, é menos cruel do que constranger um conhecido, um ficante, um
namorado, dando notas e conceitos sobre sua personalidade amorosa ou sexual.
A loira jamaicana Alexandra Chong, de 32 anos, criou o aplicativo para
celular Lulu em fevereiro deste ano. O objetivo era mais inofensivo,
engraçadinho e inocente do que aparentemente se tornou nas mãos de moças
venenosas. Era para ajudar as meninas a compartilhar informações sobre
pretendentes e ex-namorados – tipo “ajudar a evitar uma roubada” ou estimular o
namoro (Será que as ex recomendam? Não sei não). As opiniões se cruzam e se
chega a uma nota média do rapaz (#medo).
Hoje, o Lulu tem mais de 1 milhão de usuárias mulheres nos Estados
Unidos. E, no Brasil, já é um dos aplicativos mais baixados e controversos,
embora tenha sido lançado oficialmente apenas hoje em São Paulo. Já existem
homens querendo processar. Olhe aqui a história do estudante de Direito Felippo
Scolari, de uma família de advogados, revoltado com o que chama de
constrangimento pessoal e invasão de sua privacidade (privacidade ainda
existe?).
Alexandra veio ao Brasil e disse à repórter Roberta Salomone, do jornal
O Globo, que o Brasil foi uma escolha fácil para o primeiro lançamento fora dos
Estados Unidos por ser “um dos paises mais sociáveis do mundo”, com "uma
conhecida cena de festas e encontros".
As usuárias são sempre anônimas, explica Alexandra. Ou seja, qualquer
uma pode se vingar de qualquer um. A criadora do Lulu não acha nada antiético.
Diz que o aplicativo “é um reflexo do mundo real” porque as garotas discutem
relacionamentos e garotos. Desculpe, mas não dá para engolir. Uma coisa é falar
dos meninos e dos homens no banheiro ou no bar, numa roda de amigas, assumindo
suas opiniões, normalmente em tom de lamúria. Outra é, protegida pelo
anonimato, fazer a caveira de um ex. Alexandra diz que bolou o Lulu para ser
“um ambiente seguro e divertido para todos”... porque “os homens só podem ser
vistos e avaliados por suas amigas do Facebook”. Hummm. Isso ajuda? Muy amigas.
Quem vai rir por último serão os homens. Está em desenvolvimento o
Tubby App, que avalia publicamente as meninas, moças, mulheres. É baixaria, do
mesmo jeito – ou talvez pior. No Tubby, homens poderão fazer análises sobre as
mulheres que conhecem usando hashtags para falar sobre seus pontos positivos e
negativos, do mesmo jeito que acontece com o Lulu. Tudo anonimamente. O
aplicativo deverá ser restrito ao público masculino e o download deve ser
liberado na semana que vem, tanto para Android quanto iOS. E, claro, como não
poderia deixar de ser em se tratando de homens, o aplicativo mostra o quanto a
mulher em questão é “rodada”. Machista? Muito. Mas o que as moças do Lulu esperavam?
Não entrei em nenhum dos apps para ver como funcionam. Para mim, esse
mundo não funciona, não me excita. Na verdade, me deprime. Eu pediria para
sair.
Fico imaginando se a Alexandra Chong achará divertido e seguro quando
namoradinhos sacanas e ex-ficantes anônimos a avaliarem no Tubby.
Ruth de Aquino, disponível em sua coluna.
Um comentário:
Sobre essa questão, Douglas, dê uma olhada neste artigo:
http://lucianoayan.com/2013/12/06/um-pais-histerico-por-causa-do-esquerdismo-tubby-proibido-lulu-liberado/
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