E
o que tudo isso tem que ver com a história de Sansão? No relato bíblico, Deus
procurou incutir nos pais do futuro juiz a percepção de que seriam responsáveis
por transmitir a ele uma educação suficiente para prepará-lo no sentido de
cumprir a missão de sua vida. Ellen White enfatiza a importância deste
“treinamento” para a obra que Sansão empreenderia:
E não era bastante que o filho prometido recebesse
um bom legado dos pais. Este devia ser seguido de um ensino cuidadoso e da
formação de hábitos corretos. Deus determinara que o futuro juiz e libertador
de Israel fosse desde seu nascimento ensinado na estrita temperança. Devia ser
nazireu desde seu nascimento, achando-se assim posto sob proibição perpétua do
uso do vinho ou de bebida forte. […]
A verdadeira temperança nos ensina a dispensar
inteiramente todas as coisas nocivas, e usar judiciosamente aquilo que é
saudável. [1]
O
voto do nazireado, a que Sansão seria submetido, era uma forma de incrustar os
valores de domínio próprio e domínio do apetite. Ainda hoje servir a Deus
inclui dominar-se, o que certamente inclui abrir mão de gostos pessoais, de
opiniões formadas, de hábitos alimentares incorretos, de um temperamento
voluntarioso e procurar desenvolver, pela fé e relacionamento com o Salvador,
uma conduta marcada pelo serviço ao próximo e a Deus.
Ainda
no que diz respeito ao nazireado, o termo original se deriva de uma raiz que
indica algo separado, podendo até ser empregado com o sentido de distinto
(reunindo as acepções de “diferente” e “iminente”). Mas, no sentido técnico,
nazireu se refere a “um grupo de indivíduos dedicados” a Deus, “líderes
espirituais de seu tempo”. [2] Os nazireus não eram sacerdotes, mas
“leigos que se consagravam totalmente ao serviço de Deus”, na maior parte das
vezes por um período estabelecido, em poucos casos, durante toda a vida. Eram
separados de algumas coisas e, acima de tudo, separados para Deus. O voto
apontava para “a dedicação total ao serviço de Deus, que é o alvo de todos os
cristãos.” [3] Além de contribuir para a consagração pessoal, o voto era
importante para preservar a identidade nacional:
O nazireado tem uma importância direta no que se
refere ao fortalecimento da consciência nacional e de sua fundamentação
religiosa. Certamente, não foi pouca sua contribuição para manter viva em
Israel, a consciência de seu caráter específico como povo e da necessidade de
manter-se alheio a tudo o que é cananeu, já que fora eleito pelo Deus zeloso.
Dessa maneira, os nazireus foram um fator importante porque a religião
israelita não caísse num fácil compromisso com a religião Cananeia, para
impulsioná-la a que afirmasse e sustentasse com energia sua própria
peculiaridade. [4]
Relembrando:
Deus escolheu Sansão para uma missão e, a fim de prepará-lo, orientou seus pais
que o menino viveria dentro das prescrições de um voto especial de consagração.
Sansão recebeu seu RG das mãos celestiais. E qual foi o resultado?
O
epílogo do encontro foi, certamente, a coisa mais espantosa que Manoá e sua
esposa haviam testemunhado! O estranho mensageiro sumiu em meio às chamas do
sacrifício, deixando o simpático casal boquiaberto – haviam sido visitados pelo
Anjo do Senhor! Manoá temeu por sua vida, mas sua esposa, com ar mais confiante,
fez com que ele reconhecesse que, por causa de todas as revelações feitas, o
Senhor tinha um plano (Jz 13:20-23).
De
fato, poucas pessoas na Bíblia têm um nascimento anunciado sobrenaturalmente –
estamos falando de gente do “quilate” de Isaque, João Batista e Jesus. Sansão
era um herói promissor. É claro que hoje poucas pessoas são escolhidos da forma
como Sansão foi; ainda assim, Deus traçou Seu plano para nós desde o
nascimento. Ele reservou uma missão para você. Para cumpri-la, você necessita
da visão correta, baseada na comunhão pessoal com Deus, através de Sua Palavra.
Também deve haver uma constante submissão à vontade divina revelada, o que
levará a uma vida marcada pelo domínio próprio. Detendo-se no começo da
história de Sansão, o leitor da Bíblia espera esbarrar-se com algum
“super-santo”, um campeão da Verdade. Alguém que vivesse de forma diferenciada.
Um gigante da fé. No entanto, algo deu muito errado.
Retirado do livro Paixão Cega. Para adquirir o volume no site da CPB, clique aqui.
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