Perceba que a parábola de Jotão prossegue:
“Finalmente todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Venha ser nosso rei!’ O espinheiro disse às árvores: ‘Se querem realmente ungir-me rei sobre vocês, venham abrigar-se à minha sombra; do contrário, sairá fogo do espinheiro e consumirá até os cedros do Líbano!’ Juízes 9:14 e 15, NVI.
Ao contrário das árvores que anteriormente foram convidadas a reinar, apenas o espinheiro não era capaz de produzir fruto algum, além de não fornecer sombra (daí a ironia do convite “venham abrigar-se à minha sombra”, Jz 9:15); o espinheiro também facilmente provocava incêndios – suas pontas secas podiam queimar no verão e as chamas se espalharem com o vento, ameaçando árvores altaneiras, como o próprio cedro do Líbano (v.15).[1]
A pouca reflexão na escolha de governantes e a completa abstinência de participação no processo democrático, são responsáveis pela perpetuação de maus governos. A neutralidade não é benéfica, uma vez que “nada fazer é uma receita certa para o pecado ficar senhor da situação”. Temos de atuar, exercendo influência junto às autoridades constituídas, a fim de preservar nossa liberdade para pregar o evangelho, buscando parcerias a fim de continuar desempenhando junto aos órgãos públicos nossa responsabilidade de assistência social e promovendo leis e medidas que se coadunem aos princípios da Palavra inspirada. “Ignorância política não aumenta a felicidade espiritual.”[2]
Ao escolher apoiar Abimeleque, a população de Siquém (ou ao menos parte dela), apoiava um governante injusto, enquanto desprezava, simultaneamente, a contribuição prestada pela liderança militar de Gideão. Ellen White afirma:
““Quando os homens rejeitam o temor de Deus, não demora afastarem-se da honra e integridade. Uma apreciação da misericórdia do Senhor determinará a apreciação daqueles que, como Gideão, foram usados como instrumento para abençoar Seu povo. A conduta cruel por parte de Israel para com a casa de Gideão, foi o que se poderia esperar de um povo que manifestava tamanha ingratidão para com Deus.”[3]
Temos que aprender do protesto de Jotão, que em sua moderação, usou de civilidade para colocar os fatos diante do povo: com rigor profético, ele mostrou aos homens de Siquém o resultado da escolha deles – eles e o próprio Abimeleque iriam se auto-destruir (Jz 9:20). Como Jotão, nenhum cristão precisa curvar-se à injustiça e corrupção. Somos chamados para representar um Deus que, em Sua essência, é uma perfeita harmonia entre misericórdia e justiça (Sl 85:10). Além de protestar de forma ordeira e condizente com o caráter cristãos, devemos participar efetivamente da eleição de nossos governantes, apoiando “a pessoa mais idônea para o posto”. De fato, “o exercício da cidadania é parte da vida de todo cristão responsável”.[4]
Ellen White, a voz profética entre os adventistas, aconselhou a membresia que lhe contemporânea a tomar partido de causas que envolviam assuntos como temperança, por exemplo.[5] O cristão não pode deixar de participar na vida pública – se ele não o fizer, entregará uma importante esfera social ao controle de pessoas com princípios, mormente, contrários aos da Revelação.
[2] Bert B. Beach, opus citado, idem.
[3] Ellen G. White, “Patriarcas e Profetas” (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), p. 557.
[4] Revista Adventista, Setembro de 2000, seção “Consultoria Doutrinária”, p. 11.
[5] Ver Ellen White, “Temperança” (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 3ª ed., pp. 253 a 256. Consegui esta referência através de um material impresso, extraído de alguma publicação antiga: Arthur White, “Adventistas do sétimo dia e votação”, Associação Geral da IASD, Washington 12, D.C., 14 de Agosto de 1952.
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