Por Robert Miola[1]
Em 1613, ao fim da sua carreira, Shakespeare convidou John Fletcher para dramatizar o reino de Henrique VIII – o rei que rompeu com Roma e começou a revolução Protestante na Inglaterra. A peça terminou com o canto rapsódico de Thomas Cranmer à única e futura rainha, Elizabeth, que consolidaria o segmento Anglicano:
Eis régia infanta – os céus pairam sobre ela! –
Mesmo em seu berço, desde já promete
Bênçãos mil e mais mil sobre esta terra,
As quais o tempo fará férteis. Será –
Vive há pouco e se pode ver bondade –
Padrão para as princesas com quem vive,
E às que a sucederão.[2]
Os adversários de Elizabeth, Cranmer prediz, serão chacolhados como um campo de milho debulhado; e, entre aqueles inimigos incluíam-se os Católicos, os quais Elizabeth perseguiu cruelmente, aprisionando, e executando; os leitores tem tradicionalmente visto a peça como propaganda protestante.
E assim Henrique VIII é também a história de outra rainha: Katherine de Aragão, descartada por Henrique, dedicada esposa católica. Katherine corajosamente suporta o julgamento, permanece por sua “honra”, seu “laço de núpcias”, e seu “amor e compromisso”. Ela atacou Wolsey por sua “arrogância, ressentimento e orgulho” e desejou fazer um apelo “ao Papa”, para levar seu caso diante de “Sua Santidade”. No palco ela teve uma visão de espíritos angélicos dançando e dando-lhe boas-vindas no céu depois que ela morresse. Shakespeare e Fletcher retratam Katerine como uma injustiçada, heróica, e santa rainha.
Henrique VIII, em outras palavras, é acetato de sódio[3] e impressionante falsa neve, como Theseus disse em “Sonhos de uma noite de verão”. A peça exalta a Reforma Protestante ou a deformação protestante? Como nós encontraríamos um acordo deste desacordo? Diferente de Alguns poetas como Dante, Spencer e Milton, Shakespeare nos dá uma janela através da qual vemos sem clareza sua alma por dentro. Ambos, Protestantes e Católicos – como qualquer outro também – pode encontrar ampla evidência para reivindicar como seu o que é próprio deles. Mas desde então Shakespeare foi canonizado como poeta Protestante nacional por muito tempo; notícias de suas simpatias pelo catolicismo e perspectivas tem gerado agitação popular e acadêmica em anos recentes.
Então, por exemplo, o “Mundo Bibliográfico de Shakespeare”, um banco de dados eletrônico de estudos shakesperianos de 1962 em diante, registrou 228 acessos para “Catolicismo”, bem acima de cem deles desde a última década. Parte deste trabalho recente é tendenciosa e não-convincente. Mas parte dele mostra padrões evocativos de como Shakespeare extraía das ricas tradições do Catolicismo para criar seu drama.
Em 1613, ao fim da sua carreira, Shakespeare convidou John Fletcher para dramatizar o reino de Henrique VIII – o rei que rompeu com Roma e começou a revolução Protestante na Inglaterra. A peça terminou com o canto rapsódico de Thomas Cranmer à única e futura rainha, Elizabeth, que consolidaria o segmento Anglicano:
Eis régia infanta – os céus pairam sobre ela! –
Mesmo em seu berço, desde já promete
Bênçãos mil e mais mil sobre esta terra,
As quais o tempo fará férteis. Será –
Vive há pouco e se pode ver bondade –
Padrão para as princesas com quem vive,
E às que a sucederão.[2]
Os adversários de Elizabeth, Cranmer prediz, serão chacolhados como um campo de milho debulhado; e, entre aqueles inimigos incluíam-se os Católicos, os quais Elizabeth perseguiu cruelmente, aprisionando, e executando; os leitores tem tradicionalmente visto a peça como propaganda protestante.
E assim Henrique VIII é também a história de outra rainha: Katherine de Aragão, descartada por Henrique, dedicada esposa católica. Katherine corajosamente suporta o julgamento, permanece por sua “honra”, seu “laço de núpcias”, e seu “amor e compromisso”. Ela atacou Wolsey por sua “arrogância, ressentimento e orgulho” e desejou fazer um apelo “ao Papa”, para levar seu caso diante de “Sua Santidade”. No palco ela teve uma visão de espíritos angélicos dançando e dando-lhe boas-vindas no céu depois que ela morresse. Shakespeare e Fletcher retratam Katerine como uma injustiçada, heróica, e santa rainha.
Henrique VIII, em outras palavras, é acetato de sódio[3] e impressionante falsa neve, como Theseus disse em “Sonhos de uma noite de verão”. A peça exalta a Reforma Protestante ou a deformação protestante? Como nós encontraríamos um acordo deste desacordo? Diferente de Alguns poetas como Dante, Spencer e Milton, Shakespeare nos dá uma janela através da qual vemos sem clareza sua alma por dentro. Ambos, Protestantes e Católicos – como qualquer outro também – pode encontrar ampla evidência para reivindicar como seu o que é próprio deles. Mas desde então Shakespeare foi canonizado como poeta Protestante nacional por muito tempo; notícias de suas simpatias pelo catolicismo e perspectivas tem gerado agitação popular e acadêmica em anos recentes.
Então, por exemplo, o “Mundo Bibliográfico de Shakespeare”, um banco de dados eletrônico de estudos shakesperianos de 1962 em diante, registrou 228 acessos para “Catolicismo”, bem acima de cem deles desde a última década. Parte deste trabalho recente é tendenciosa e não-convincente. Mas parte dele mostra padrões evocativos de como Shakespeare extraía das ricas tradições do Catolicismo para criar seu drama.
Católico ou Protestante, o fato é que Shakespeare é um dos maiores autores cristãos de todas as épocas, e não só em Língua Inglesa. Sem dúvida, a influência do Cristianismo sobre a Literatura em particular, e sobre as Artes em geral, é marcante; somente uma Religião que crê no poder de um Deus com poder de criar a partir do nada poderia incentivar de tal modo a criatividade humana!
[1]Publicado no periódico católico “First Things”, Maio de 2008, disponível em http://www.firstthings.com/article.php3?id_article=6202.
[2] A tradução segue a tendência tradicional de verter a poesia shakesperiana em decassílabos heróicos e heróicos quebrados (seis sílabas, como no último verso).
[3] Em Inglês “hot ice”. O acetato de sódio é um cristal que tem a aparência de gelo. O uso da expressão indica que a peça de Shakespeare parece uma coisa, sendo, em realidade, outra.
[2] A tradução segue a tendência tradicional de verter a poesia shakesperiana em decassílabos heróicos e heróicos quebrados (seis sílabas, como no último verso).
[3] Em Inglês “hot ice”. O acetato de sódio é um cristal que tem a aparência de gelo. O uso da expressão indica que a peça de Shakespeare parece uma coisa, sendo, em realidade, outra.
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