A negligência da posse
Há
muito Deus ordenara ao seu povo para destruir os habitantes de Canaã, a fim de
que não se influenciassem por sua idolatria (Dt 20:16-18); mesmo que o povo, a
princípio sob a liderança de Moisés, não estivesse preparado para a guerra,
Deus estaria com eles durante os confrontos; ele “treinaria” Seu povo através
de confrontos com inimigos (Jz 1-4). Havia promessa da destruição dos enaquins
(Dt 9: 20), [1] os povos gigantes, responsáveis pelo súbito desânimo dos dez
espias (Dt 1:28) e que causavam receio aos contemporâneos de Josué, uma geração
mais tarde (Js 17: 15-18); afinal, além de gigantes, possuíam carros de ferro.
Calebe,
que junto com Josué conheceu a terra de Canaã, deu um exemplo de coragem ao
resolver enfrentar os inimigos (Js 14:12, 15; 15:14; Jz 1:20) e, finalmente, a
maior parte dos enaquins foram expulsos (Js 11:21 e 22; Jz 1:10), reedificando
as cidades conquistadas (Js 20:7, 21:11). De fato, Deus cumprira Suas promessas
(Js.21:45).
Entretanto,
a conquista da terra não foi completa (Jz 1:27-36), o que ocorreu devido à
desobediência do povo (Jz 2:2-5). Através de Josué, a nação de Israel fora
advertida a não se misturar (por meio de casamentos) com seus vizinhos pagãos.
Gradualmente, porém, esta “mistura” veio a acontecer: o povo de Deus passou a
viver de acordo com os costumes que adquiriam no convívio com estes povos,
correndo o risco de perder sua identidade profética em definitivo. A
negligência da geração de Josué comprometeu as gerações seguintes.
Quando
uma geração de cristãos não cumpre o desafio de prover alternativas sadias e
viáveis para a filosofia secular dominante, prepara o caminho para a apostasia
da próxima geração de cristãos (Jz 2:10 e 15). Nosso contexto pós-moderno é
distinto daquele vivido por Israel após sua chegada na Terra Prometida. A nossa
luta não é “contra a carne e o sangue” (Ef 6:12). Nós lutamos para levar
“cativo todo pensamento à obediência a Cristo” (2 Co 10:5). Distinções à parte,
não podemos negligenciar ou protelar o dever de tomar posse deste mundo,
através do desenvolvimento consciente de uma visão geral acerca de todas as
áreas do viver.
Uma pitada basta
Ao
fazer a opção pela dieta vegetariana, tive de explorar a culinária, pois era
impossível à minha mãe, uma funcionária pública, dispor de tempo para preparar
dois tipos diferentes de refeição (somente eu me tornei vegetariano). Mas, pela
inexperiência, custei a saber qual a quantidade exata de sal eu deveria usar:
ou as pitadas eram generosas ao extremo, ou, simplesmente, eu me esquecia de
usá-lo!
Para
tornar gráfica a necessidade de exercermos influência positiva sobre o mundo, o
Senhor Jesus empregou a imagem do sal (Mt 5:13). Ser sal ultrapassa o hábito de
entregar folhetos ou dar estudos bíblicos. Precisamos apresentar uma cultura
cristã madura, que se imponha diante da cultura secular. Tampouco seria correto
batizar tendências mundanas: nossa abordagem pedagógica, administrativa,
musical ou em qualquer outra área, deve se adequar à Revelação que Deus deixou:
a Bíblia. Allan Bloom, num livro secular, chega à uma conclusão semelhante:
Para efeitos práticos, nos Estados Unidos, a Bíblia
era a única cultura comum, a qual unia os simples e os requintados, os ricos e
os pobres, os jovens e os velhos e – como verdadeiro modelo de uma visão de
mundo, chave para o resto da arte do Ocidente, cujas maiores obras de uma forma
ou de outra derivavam da Bíblia – contribuía para dar seriedade aos livros. Com
seu desaparecimento gradativo, inevitável, a própria ideia de um livro tão
completo, a possibilidade e necessidade de uma explicação do mundo estão
igualmente desaparecendo. […] sem o livro a própria ideia da ordem do conjunto
está perdida. [2]
A
sociedade americana pode ter perdido seu foco, como se entende das afirmações
de Bloom, mas com a igreja não pode acontecer isto: temos de alimentar a visão
com estudo da Bíblia e aplicação de suas verdades de forma completa. Somente
assim conquistaremos o mundo – Deus conta com nossa geração!
Leia também: A destruição dos cananeus
[1] A respeito da matança dos enaquins
e demais cananeus, sob as ordens de Deus, de um ponto de vista moral, ver
Douglas Reis, A destruição dos cananeus,
disponível em .
[2] Allan Bloom, O declínio da cultura ocidental (São Paulo, SP: Ed. Best Seller
[Ed. Nova Cultural], 1989, 4ª), 72-73.
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