quinta-feira, 5 de junho de 2008

CONQUISTANDO O MUNDO: A RESPONSABILIDADE POR TRÁS DA MISSÃO


A negligência da posse

Há muito Deus ordenara ao seu povo para destruir os habitantes de Canaã, a fim de que não se influenciassem por sua idolatria (Dt 20:16-18); mesmo que o povo, a princípio sob a liderança de Moisés, não estivesse preparado para a guerra, Deus estaria com eles durante os confrontos; ele “treinaria” Seu povo através de confrontos com inimigos (Jz 1-4). Havia promessa da destruição dos enaquins (Dt 9: 20), [1] os povos gigantes, responsáveis pelo súbito desânimo dos dez espias (Dt 1:28) e que causavam receio aos contemporâneos de Josué, uma geração mais tarde (Js 17: 15-18); afinal, além de gigantes, possuíam carros de ferro.
Calebe, que junto com Josué conheceu a terra de Canaã, deu um exemplo de coragem ao resolver enfrentar os inimigos (Js 14:12, 15; 15:14; Jz 1:20) e, finalmente, a maior parte dos enaquins foram expulsos (Js 11:21 e 22; Jz 1:10), reedificando as cidades conquistadas (Js 20:7, 21:11). De fato, Deus cumprira Suas promessas (Js.21:45).
Entretanto, a conquista da terra não foi completa (Jz 1:27-36), o que ocorreu devido à desobediência do povo (Jz 2:2-5). Através de Josué, a nação de Israel fora advertida a não se misturar (por meio de casamentos) com seus vizinhos pagãos. Gradualmente, porém, esta “mistura” veio a acontecer: o povo de Deus passou a viver de acordo com os costumes que adquiriam no convívio com estes povos, correndo o risco de perder sua identidade profética em definitivo. A negligência da geração de Josué comprometeu as gerações seguintes.
Quando uma geração de cristãos não cumpre o desafio de prover alternativas sadias e viáveis para a filosofia secular dominante, prepara o caminho para a apostasia da próxima geração de cristãos (Jz 2:10 e 15). Nosso contexto pós-moderno é distinto daquele vivido por Israel após sua chegada na Terra Prometida. A nossa luta não é “contra a carne e o sangue” (Ef 6:12). Nós lutamos para levar “cativo todo pensamento à obediência a Cristo” (2 Co 10:5). Distinções à parte, não podemos negligenciar ou protelar o dever de tomar posse deste mundo, através do desenvolvimento consciente de uma visão geral acerca de todas as áreas do viver.

Uma pitada basta

Ao fazer a opção pela dieta vegetariana, tive de explorar a culinária, pois era impossível à minha mãe, uma funcionária pública, dispor de tempo para preparar dois tipos diferentes de refeição (somente eu me tornei vegetariano). Mas, pela inexperiência, custei a saber qual a quantidade exata de sal eu deveria usar: ou as pitadas eram generosas ao extremo, ou, simplesmente, eu me esquecia de usá-lo!
Para tornar gráfica a necessidade de exercermos influência positiva sobre o mundo, o Senhor Jesus empregou a imagem do sal (Mt 5:13). Ser sal ultrapassa o hábito de entregar folhetos ou dar estudos bíblicos. Precisamos apresentar uma cultura cristã madura, que se imponha diante da cultura secular. Tampouco seria correto batizar tendências mundanas: nossa abordagem pedagógica, administrativa, musical ou em qualquer outra área, deve se adequar à Revelação que Deus deixou: a Bíblia. Allan Bloom, num livro secular, chega à uma conclusão semelhante:

Para efeitos práticos, nos Estados Unidos, a Bíblia era a única cultura comum, a qual unia os simples e os requintados, os ricos e os pobres, os jovens e os velhos e – como verdadeiro modelo de uma visão de mundo, chave para o resto da arte do Ocidente, cujas maiores obras de uma forma ou de outra derivavam da Bíblia – contribuía para dar seriedade aos livros. Com seu desaparecimento gradativo, inevitável, a própria ideia de um livro tão completo, a possibilidade e necessidade de uma explicação do mundo estão igualmente desaparecendo. […] sem o livro a própria ideia da ordem do conjunto está perdida. [2]


A sociedade americana pode ter perdido seu foco, como se entende das afirmações de Bloom, mas com a igreja não pode acontecer isto: temos de alimentar a visão com estudo da Bíblia e aplicação de suas verdades de forma completa. Somente assim conquistaremos o mundo – Deus conta com nossa geração!

[1] A respeito da matança dos enaquins e demais cananeus, sob as ordens de Deus, de um ponto de vista moral, ver Douglas Reis, A destruição dos cananeus, disponível em .

[2] Allan Bloom, O declínio da cultura ocidental (São Paulo, SP: Ed. Best Seller [Ed. Nova Cultural], 1989, 4ª), 72-73.


Nenhum comentário: