quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ESCATOLOGIA NO SALMO 23 - parte 2


ESCATOLOGIA DO SALMO 23
Por Heber Toth Armi

A Unção

O salmista Davi, além das experiências com ovinos, também sabia o que era unção[1]. Ele era jovem quando o profeta Samuel, orientado por Deus, fora ungi-lo a fim de ser rei em Israel. Para Davi, unção significava privilégios. Depois de ser ungido com óleo (azeite), Davi se tornou rei. O Apocalipse informa que os fiéis vencedores sentarão no trono de Cristo e reinarão com Ele[2]. As fiéis ovelhas de Cristo serão privilegiadas como foi Davi.

Unção nesse texto significa transformação. Significa deixar de ser comparado a ovelha inocente, dependente, com visão curta. A unção profeticamente simboliza ser rei juntamente com Cristo no Céu auxiliando-O na administração do Universo. O motivo pela mudança de linguagem no Salmo, o qual deixa de referir-se aos seguidores de Cristo como meras ovelhas, apresenta a transformação que ocorrerá quando Cristo voltar à Terra. Jesus virá com poder e glória acompanhado de Seus anjos[3], a fim de realizar a transformação e conceder privilégios aos fiéis conforme relatado pelo apóstolo Paulo[4]. O cálice transbordando simbolizam infinitas bênçãos e privilégios oriundos da transformação.

A Mesa

Quando o Salmo foi escrito, a ceia preparada era sinônimo da união de grupos e indivíduos. Sentar-se à mesa consolidava lealdade e sinal de segurança e alegria[5]. Era uma verdadeira festa.

Comer e beber no Antigo Testamento expressavam alegria entre amigos ao redor da mesa[6]. Como metáfora, o comer e beber no contexto vétero-testamentário estavam relacionados geralmente a um grande banquete. Um exemplo típico se encontra no livro de Isaías (25:6-8) de um evento profético pleno da alegria da Salvação[7]. Tal evento escatológico é uma indicação da grande festa tão significativa representada por Jesus na parábola do banquete nupcial[8].

O Apocalipse também cita a ceia com Jesus[9] vinculada à vitória final dos cristãos. O contexto informa que o vencedor ceará com Jesus que batia à porta. Após Seu retorno à Terra, Cristo celebrará no Céu a vitória dos salvos com uma festa. Cristo será anfitrião e os anjos com os salvos deslizarão com maestria suas mãos nas cordas de suas harpas resplandecentes, “tirando-lhes suave música em ricos e melodiosos acordes”[10].

Ao oferecer um banquete, Jesus é bem maior que um Pastor. É o Rei que convida Seus amigos para fartura de manjares[11]. A alegria reinará nesse ambiente festivo, e os salvos transformados serão privilegiados.

Bondade e Amor

Esses termos representam à constante presença de Deus com os salvos no Céu, onde estes O verão face a face como Ele realmente é. Os textos bíblicos clareiam esta idéia.

Moisés curiosamente rogou ao Senhor para mostrar-lhe Sua Glória. “E Deus lhe respondeu: Eu farei passar toda minha bondade diante de ti...”[12]. Tal referência apresenta a idéia de que a glória de Deus se expressa por meio da Sua bondade, a qual é a essência do Seu caráter, como também é o amor, pois “Deus é amor”[13].

Assim temos no Salmo a idéia de que no Céu, com a transformação, sem a presença do pecado, os salvos verão a Deus face a face[14], sem nenhum empecilho[15]. No Céu, os salvos terão sempre a presença Divina simbolizada pelo Amor e a Bondade constante no Salmo 23.

Casa do Senhor

O texto não diz casa do Pastor, mas casa do Senhor. Essa idéia nos leva às palavras proféticas de Jesus: “Na casa de meu Pai há muitas moradas... vou preparar-vos lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais vós também”[16]. Os salvos habitarão na casa de Deus, no Céu[17].

Após a recepção e a festa, depois de celebrada a vitória sobre o pecado, os salvos serão conduzidos ao novo lar. No Céu, na casa do Senhor, será a habitação daqueles que seguirem, neste mundo, as orientações do Pastor Jesus; daqueles que suportarem o vale da sobra da morte, mas permanecerem firmes no caminho da justiça com o apoio de seu Pastor.

CONCLUSÃO

Podemos atribuir à primeira parte do Salmo 23 a experiência de fé que o cristão fiel viverá antes da volta de Cristo. Pois no fim haverá um terrível tempo de angústia, mas nesse tempo se levantará Miguel, o grande príncipe – o Pastor – que está junto aos filhos de Deus”[18].

Ao fim da terrível experiência do vale da sobra da morte, os salvos serão levados ao Céu, onde serão recepcionados por Jesus. Estes estarão à mesa num grande banquete. Depois disto, os salvos serão guiados à casa do Pai, para ali habitar.Com tais evidências concluímos que o Salmo 23 divide-se em duas partes, uma se refere às promessas do presente e vai até a volta de Cristo; enquanto a outra, sendo escatológica, é concernente ao futuro, após a vinda de Cristo e Sua ascensão aos Céus .


O pastor Heber Toth Armi, que escreve com exclusividade para o Questão de Confiança, é atualmente é Pastor auxiliar no Distrito de Campinas, São José, SC, Brasil.

[1] I Samuel 16:12-13.
[2] Apocalipse 3:21; 20:6.
[3] Mateus 24:30-31.
[4] I Coríntios 15:51-54; I Tessalonicenses 4:13-17.
[5] Alberto R Timm, Amin A. Rodor e Vanderlei Dorneles, Eds. O Futuro: A visão Adventista dos últimos acontecimentos (Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, 2004), p. 150.
[6] Idem., 140.
[7] Ibid.
[8] Mateus 22:1-14.
[9] Apocalipse 3:20.
[10] Ellen G. White. O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), p. 645.
[11] F. D. Nichol, Ed. Seventh-day Adventist Bible Comentary (Washington, DC: Rewiew an Herald, 1953-1957), 3:695.
[12] Êxodo 33:18-19.
[13] I João 4:8.
[14] Ellen G. White. Op. Cit., 676-677.
[15] I Coríntios 13:12.
[16] João 14:1-3
[17] Ellen G. White apresenta a idéia de uma festa antes da entrada dos salvos em seu novo lar. Ellen G. White. Op. Cit., 645-646.
[18] Daniel 12:1.

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