quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ESCATOLOGIA NO SALMO 23 - parte 1


Heber Toth Armi
INTRODUÇÃO

Os Salmos é o maior livro da Bíblia. Por servirem de inspiração a maioria dos leitores da Bíblia tem grande interesse por eles. Teólogos reconhecem em suas poesias “alguns dos assuntos mais inspiradores das Escrituras”[1].Os Salmos inspiram e animam pessoas de todas as épocas.

Os Salmos têm atraído grandes escritores motivando-os a publicarem comentários sobre seu conteúdo. “O renomado pregador Batista Charles H. Spurgeon publicou, entre 1882 e 1886 uma obra com sete volumes com comentário e compilação de citações relevantes sobre Salmos”[2]. Espelhando os procedimentos de Hermann Gunkel quanto às suas análises dos Salmos, Hans-Joaquim Kraus ao escrever Teologia dos Salmos destacou a necessidade de focar especialmente nas ações e natureza de Deus[3].

Pela sua própria natureza os Salmos são poemas dirigidos a Deus e expressam verdades com melodias sobre Ele[4]. Como Palavra de Deus os Salmos são coletâneas de orações e hinos inspirados.

Dos 150 Salmos, 73 são atribuídos a Davi. O qual antes de ser rei foi pastor de ovelhas[5]. Com razoável conhecimento pastoril, Davi fez uma analogia relacionando o pastor de ovelhas com Jesus e Seus seguidores a ovelhas. Dentre sua autoria, o Salmo do Pastor tem sido um dos preferidos de multidões, conhecido por Salmo 23.

ESPERANÇA NO SALMO 23

Segundo Hans K. LaRondelle, os Salmos são importantes a judeus e cristãos, não apenas por ser um tipo de orações inspiradas, “mas porque suas mensagens de esperança e conforto são especialmente necessárias para o povo de Deus hoje”[6]. Eles sempre têm mensagens oportunas.
Embora o Salmo 23 tenha sido de grande apreciação e inspiração, muitos não o compreendem corretamente. A compreensão deste Salmo dependerá não só da familiaridade do leitor com o estilo poético oriental e do contexto em que foi escrito, mas também com toda a Bíblia.

Bem compreendidos, nos salmos há grandes temas escatológicos[7]. Assim, analisaremos o tema escatológico delineado no Salmo 23 escrito por um ex-pastor de ovelhas que se tornou rei em Israel, o qual tinha em mente, quando escreveu esse salmo, todo o cuidado que um pastor oriental tem para com seu rebanho e tornou isso uma analogia do cuidado de Deus para com Seus filhos. Inspirado pelo Espírito Santo, Davi aplica nesse salmo suas experiências, de pastor de ovelhas a rei de Israel.

O Salmo 23 contém duas partes. A primeira, apresenta Deus, ou mesmo Jesus, como Pastor. As promessas dos versos de um a quatro podem ser vista cumprindo-se na vida das ovelhas de Cristo neste mundo. Porém, mesmo cumpridas as promessas de provisões, proteção, segurança, direção e amor na vida das ovelhas do Divino Pastor, ainda podem enfrentar momentos desagradáveis. Pois este mundo apresenta maldades, terrorismos, mortes, injustiças, guerras, enchentes, terremotos, violências, fomes, misérias, dores, doenças, perseguições e outros problemas, mesmo ao lado do Pastor. É impossível, neste mundo de injustiças, viver sem ver ou passar pelo vale da sobra da morte.

A segunda parte do salmo (versos cinco e seis) vai além do presente, se refere ao futuro. Assim o Salmo 23 contém uma parte apocalíptica que revela o futuro das ovelhas de Cristo que deixarem guiar por Ele. Nesta segunda parte a linguagem já não é comparativa, mas profética. Não há mais a idéia de pastor e ovelhas. Prova disso é que ovelha não senta à mesa, muito menos à frente de seus inimigos; não era ungida e, nem morava na casa do pastor, embora o texto já não refira mais ao Pastor, mas ao próprio Deus e a Sua morada.

Sem deter em detalhes da primeira parte do Salmo 23 nos limitaremos aos pormenores da segunda parte.

O pastor Heber Toth Armi, que escreve com exclusividade para o Questão de Confiança, é atualmente é Pastor auxiliar no Distrito de Campinas, São José, SC, Brasil.


[1] George W. Reid, ed. Compreendendo as Escrituras: Uma abordagem Adventista. Gerhard Pfandl e Ángel M. Rodriguez. Lendo os Salmos e a Literatura Sapiencial (Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, 2007), p. 163; Samuel J. Shultz. A História de Israel no Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 2002), p. 271.
[2] Paul R. House. Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Editora vida, 2005), p. 517.
[3] Ibid.
[4] Gordon D. Fee & Douglas Stuart. Entendes o que Lês? (São Paulo: Vida Nova, 2002), p. 175.
[5] I Samuel 16:11.
[6] Hans K. LaRondelle. Deliverance in the Psalms: messages of Hope for Today (Barrien Springs, MI, First Impressions, 1983), p. 5.
[7] Merril Frederik Unger. Manual Bíblico Unger (São Paulo: Vida Nova, 2008), p. 221.

3 comentários:

Faermann disse...

Meu querido amigo, como pôdes extrair deste lindo salmo vindo do Rei David, que pode referir-se a "jesus", penso que estás equivocado, pois o Rei David foi, é e sempre será um judeu, do povo judeu, que o único Deus do universo é o único senhor.

É como dizer que uma poesia escrita a mil anos, pertence a você ou outro escritor.
Interpretar sim, apropriar-se jamais!

Deixo-lhe um fraterno abraço, Parabéns pelo seu trabalho.
Shalom, Shana Tová umetucá.
Faermann.

douglas reis disse...

Faermann,

seja bem vindo ao blog!

Você está dizendo que um profeta judeu, inspirado pelo Deus que conhece o fim desde o pricípio, não poderia se referir ao messias futuro?

Ou antes: sobre quem Isaías, outro profeta hebreu, escreve ao compor Isaías 52-53, o últímo dos cânticos do Servo?

Roni disse...

Caro amigo e irmao: muito bom seu trabalho. Como a maioria, lemos, retemos o que e bom e comentamos o que nao concordamos. como foi muito feliz no seu texto, apenas o seu comentario de que ovelhas nao eram ungidas, venho a descordar. Se ler usos e costumes de israel, veras que ainda hoje e pratica ungir ovelhas.
Parabens pela iniciativa e pela pesquisa.
Sempre firme.
Roni Pacheco