quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O DESELEGANTE E O ARROGANTE


Paulo coelho foi eleito para a Academia Brasileira de letras (ABL) por ser um record na vendagem de livros e pela abertura que o Mago tem em outros mercados – ou seja: Coelho está na ABL porque vende e porque pode ajudar os demais a venderem também. Para todos os efeitos, o escritor, que já foi parceiro do roqueiro Raul Seixas, está levando a sério sua função de “arauto da Literatura brasileira”.

Em seu blog, Paulo Coelho se queixou do fato de o ministro da Cultura, Juca Ferreira, declinar de um convite seu para participar da Feira de Frankfurt, na Alemanha. O evento, um dos mais prestigiados do mercado editorial internacional, propiciaria, segundo Coelho, “ajudar a literatura brasileira colocando o ministério da Cultura em contato com dezenas de editores que podiam, pelo menos, se interessar por algum dos excelentes autores que temos em nosso país. Lamento que jornalistas do mundo inteiro não tenham acesso ao que o ministro teria a dizer.”

Em verdade, o generoso convite teria sido feito ao ministro anterior, o cantor Gilberto Gil; mas acabou sendo extensivo ao seu sucessor, uma vez que se tratava de algo oficial. Revoltado com a atitude do ministro Juca Ferreira, Coelho chegou a usar uma parábola de Jesus, sobre aqueles que recusaram comparecer nas bodas do filho de um rei e que foram substituídos por mendigos (Mt. 22:1-14) para pedir com ares de alguém ultrajado: "Juca Ferreira, meu convite de volta, por favor." Ficamos imaginando se Paulo Coelho também não pensa ser ele próprio algum tipo de realeza...

Pelo feitio do texto, isto fica implícito, em trechos como "Isso [a ausência do ministro da cultura] em nada muda minhas atividades durante o maior evento literário do planeta. Continuarei abrindo a Feira de Frankfurt, como escritor convidado, junto com o Presidente da Feira e o Presidente do Estado de Hessen. Continuarei com a minha festa – que contará também com a presença de Gilberto Gil, mas já na condição de amigo. Continuarei recebendo, durante a festa, o diploma oficial do Livro Guinness de Recordes, como o escritor vivo mais traduzido do mundo. Continuarei recebendo no prêmio de Cinema pela Paz, durante o evento, por causa de um projeto realizado junto com meus leitores."

Se o ministro Juca Ferreira foi deselegante ou não, nada parece justificar a atitude do Mago. Aliás, parece que em todas as suas entrevistas, Paulo Coelho tem a necessidade de elogiar seus méritos literários, talvez porque nenhum crítico literário o faça. Eu mesmo, que não sou especialista em Literatura, mas que me interesso pela área, não consigo (e olho que tentei!) ler mais do que uma página de qualquer livro de Coelho. E não é preconceito, não - é porque Paulo Coelho é, de fato, um escritor insosso. Fico admirado que ele ocupe um lugar entre os imortais da ABL, já que entre os "ourives" e "latoeiros", Coelho se enquadra melhor na categoria dos últimos (para usar as duas categorias de escritores sugeridos pelo poeta Olavo Bilac, em um discurso de exaltação ao também poeta Alberto de Oliveira).

O fato de paulo Coelho ser admirado pelo mundo não significa que o Brasil esteja exportando cultura; apenas quer dizer que a futilidade é um fenômeno global.

Um comentário:

Enéias Teles Borges disse...

Ótimo texto!

Consegui ler apenas um "O Alquimista", apenas para dizer que li algo dele. É bem trivial mesmo.

A imagem do Brasil, no que tange a ele, é a de recordista na venda de livros e jamais na de exportação de cultura.

SDS