segunda-feira, 13 de outubro de 2008

JAULAS E PORTAS ABERTAS

Odor zoomórfico, escassez de gritos para tanto pânico acumulado, tilintar perdendo-se no rejunte de blocos, por onde pés se avolumam, ufa, corre-daqui-e-corre-dali, ambição acelerada, um complexo de sentimentos competindo vãmente com uma vontade soberanamente relâmpago, a divindade aflorando de um perfil-cidadão, os sacerdotes indignados e impotentes.
– Este homem, dizem que a poucos dias esteve em uma aldeia da Galiléia e, durante uma festa, teria transformado água em vinho, vinho dos bons, ainda segundo o que ouvi falar…
– Parece-me, mas não posso dizer ao certo, que este é o mesmo que o Batista falou ser o Messias; mas o Messias, fazendo esta balbúrdia no templo?!
– Sim, sim, eu sei que já o vi… ah!, é ele mesmo, é o filho de um carpinteiro bastante requisitado, Jacó ou José, algo assim o nome de seu pai…
Saduceus em pane, a ponto de avisar a soldadesca, mas temendo o derramamento de sangue no templo, temendo a sua profanação, ignorando decididamente que a legalização do comércio em seu pátio não era outra coisa senão profanação!
Meu Pai! Como pode haver
Câmbio e permuta em Teus átrios,
Como os sacerdotes deixam
Que se venda no santuário?
Peregrinos, massas deles, chegam, confusos, revoadas sem a direção das nuvens; percebem uma fila amorfa, uma outra massa de peregrinos, estes não sazonais, posto que a vida os faz peregrinos a cada hora em que rastejam pela existência,
Sem poder ver, mal andando,
Coxeando,
Tendo a língua inerte, e a lepra
Lhes roendo.
Os discípulos, sorrindo, tremendo a medida em que a razão assume as rédeas. Para eles, um ato sem consciência, velado em seu significado mais puro e extenso.
Saduceus em pane, comentário correndo pela capital de uma fé soterrada por regras.
Por dentro, o Príncipe sente a persuação do Espírito que O embala. Agiu concorde à vontade do Pai. Está nutrido por esta segurança invisivelmente inexpugnável. A vontade do Pai, Oh! Como O ama e é pelo Pai muito amado!
– Sei que o que trago não vai deixa-lo contente! Mas espere, espere que eu termine, Zacarias… não pude vender seus bezerros, sequer um par de rolas. Calma, homem! A coisa é séria. Não, não! Tivemos um grande número de pessoas no templo, mas é que… foi um homem, um rabi, de certo o seria, e, ao mesmo tempo, sua autoridade parecia suplantar mesmo a do sumo-sacerdote. Palavra! Este homem, chegou no templo, dirigiu-se com fúria para nossas barracas e soltou as jaulas com os animais, um verdadeiro dínamo! Ninguém pôde com Ele. Por um segundo, quase vi chispas de seus olhos, um momento perigoso, assustador. Foi isso, que mais teria a dizer? Assim que pude, vim para cá, e veja como continuo temendo e a palidez se apoderou de meu rosto, e o pulso me fugiu! Se amanhã teremos como voltar à rotina de comércio, não posso dizer; sei que, depois de hoje, as coisas ganharão outro rumo, e sinto que ainda ouviremos falar daquele rabi, o que possuía olhos chamejantes!…

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